Natalino Salgado Filho, MD.PhD*
A fala do Papa visa resgatar o sentido perdido e a motivação verdadeira da libertação que a palavra Páscoa evoca (do hebraico Pessach) cuja história, na Bíblia, remonta à chegada ao Egito de Jacó com sua família, levados pelo filho José que, naquele momento, era o governador do reino dos faraós.No início da quaresma,neste ano, em sua homilia, o Papa Francisco chamou a atenção dos cristãos do mundo todo para o ataque dos falsos profetas, aqueles que com palavras sedutoras aprisionam corações e mentes prometendo soluções fáceis e rápidas para toda a sorte de males. Páscoa é libertar-se, pregou o Santo Padre, de todo o aprisionamento emocional. A oração, o jejum e a esmola são remédios que devem ser utilizados para todos aqueles que queiram fugir dos encantos da mesquinhez e da soberba.
Cerca de 210 anos depois da chegada da família vinda de Canaã, a situação mudou radicalmente. Não só a família havia se multiplicado e transformado numa grande multidão, como a condiçãosocial e política era precária: eles foram tornados escravos. Deus envia um libertador, Moisés, que se torna o líder do povo para a saída do Egito e a travessia do deserto do Sinai.
Na noite em que, enfim, obtiveram a concordância do faraó, depois deste ter suportado dez pragas que trouxeram grande morticínio de pessoas e animais, além de ter praticamente destruído a economia do país, o povo foi instruído a celebrar o Pessach (Páscoa). Foi um ritual que marcou o início de uma jornada de liberdade e que, segundo a ordem divina, deveria ser celebrado por todas as gerações vindouras.
O ritual previa o sacrifício de um cordeiro, cuja carne seria comida com ervas amargas. Um cordeiro para cada família. Comer em silêncio. Eles deveriam estar totalmente arrumados para a partida. Um passado de sofrimento e exploração seria deixado para trás com suas dores, subjugação e negação de toda identidade, seja pessoal ou comunitária.
A ideia do cordeiro sem defeito que alimentou as pessoas, cujo sangue, passados nos portais das casas, tornou-se um sinal de distinção e separação, início da identidade de um não povo, para ser povo de Deus, atravessou milênios até se concretizar nos dizeres de João Batista que, após batizar a Jesus, proclamou: Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!
A história da Páscoa se fecha não exatamente na frase de Jesus, mas no sacrifício do Filho de Deus na cruz. Aquilo que foi metáfora se tornou realidade. O que foi simbólico virou fato. O que foi um ritual se manifestou em pessoa, na pessoa de Nosso Senhor, que apregoou a quebra de todos os grilhões a nos convidar para um nova vida ao seu lado.
A Páscoa aponta, portanto, para a liberdade de ser. O tornar-se parte da família de Deus. Povo de Deus. De libertar-se de prisões mentais que encarceram homens e mulheres em compreensões equivocadas de vida, na escolha de profissões que os entristecem, na permanência em relacionamentos doentios e na insistência de escolhas que só trazem sofrimento.
É da poetisa Cecília Meireles uma frase magistral: liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda. Que o Cristo Ressurreto ilumine a todos nós a vivermos uma vida plena de liberdade abençoada, feliz e próspera.
*Professor Titular de Medicina da UFMA
Chefe do Serviço de Nefrologia do Hospital Universitário da UFMA
Coordenador da Pesquisa Clinica em Nefrologia do HUUFMA
Coordenador da Liga de Afecções Renais do HUUFMA
Chefe do Serviço de Nefrologia do Hospital Universitário da UFMA
Coordenador da Pesquisa Clinica em Nefrologia do HUUFMA
Coordenador da Liga de Afecções Renais do HUUFMA