Natalino Salgado Filho*
Setembro é o mês da indefectível data que comemora a Independência do Brasil, o famoso dia 7. Setembro é aniversário de São Luís, como já tratei em artigos anteriores e também é quando começa a primavera em nossas latitudes; e ainda que estejamos tão próximos à linha do Equador, nossos ipês florescem em suas flores amarelo sol vibrante, além de suas variantes em cores roxa e branca.
Assim, lembrando nossa bandeira verde-amarela, duas campanhas ganharam as ruas e as mídias: o setembro amarelo e o setembro verde. O primeiro, cuja data mundial é o dia 10, alude à questão gravíssima do suicídio, o que levou a Organização Mundial de Saúde e a União Europeia a declararem ser um caso grave na saúde pública, o ato de as pessoas matarem a si mesmas, algo inconcebível do ponto de vista cristão ou como atitude de extremo egoísmo em relação aos que ficam.
Os dados aproximados sugerem que 800 mil pessoas por ano tiram a própria vida em todo o mundo. Tal estatística equivale a um suicídio a cada 40 segundos. Em nosso país, quase 11 mil pessoas cometem este ato extremo. O trágico entre nós é que esta é a quarta causa de morte na população mais jovem, entre 15 e 29 anos. Os homens apresentam uma taxa 3,6 vezes maior que as mulheres: 79% entre eles, contra 21% entre elas.
Solidão, depressão, bullying, problemas conjugais, financeiros, trabalho e drogas são algumas das causas mais comuns. Todas elas produzem estados mentais e emocionais de profundo desamparo e desesperança, que, não raro, expõem as pessoas às garras de profunda depressão. Mas, igualmente, são causas possíveis de serem tratadas ou enfrentadas. Os especialistas recomendam que, ao saber de alguém próximo que expressa desejo de morrer, deve-se procurar conversar com ela, inclusive sobre o assunto.
Desde junho do ano passado, o Brasil inteiro tem cobertura telefônica do Centro de Valorização da Vida, o CVV. Basta ligar 188 de qualquer telefone. Equipes de pessoas treinadas poderão ouvir a pessoa em sofrimento e predisposta a cometer o suicídio. Acolher, demonstrar afeto e interesse é uma forma de ajudar.
A outra campanha, o setembro verde, refere-se à doação de órgãos. Dia 27 é dia nacional do doador. O Brasil tem o maior programa público de transplantes de órgãos do mundo e, em números absolutos, estamos em segundo lugar no mundo inteiro, logo atrás dos Estados Unidos. Contudo, o dado epidemiológico que importa é a taxa de doações por milhão de habitantes. Em nosso caso, a despeito do aumento de 15% (dados do ano passado em relação ao ano anterior) ainda estamos longe do campeão com 16,6 doações pmp (por milhão de população). A Espanha tem a maior taxa de doações com 43,4 doações pmp. O percentual de recusa familiar em nosso país é de 43%. A lei brasileira que regulamenta a doação de órgãos é regida pelo princípio do consentimento, no caso, da família do falecido.
Desde 2000, o Maranhão realiza transplantes renais. Atualmente são realizados transplantes de córnea, rim e, recentemente, tecido ósseo e de fígado. Mas ainda há muita desinformação e é preciso um grande esforço do governo, das instituições e população para melhorar nosso índice de doação que rasteja, na faixa de 2 pmp (doadores efetivos), muito atrás da média do Nordeste (10,8 pmp).
A lista de espera para doações de todos os órgãos no Brasil é de 32,4 mil pacientes. As duas campanhas dependem enormemente de que a população tome conhecimento de maior número de informações possíveis. Comunidades bem orientadas se tornam mais saudáveis, doam mais e, naturalmente, sabendo o que fazer para ajudar, exercem a solidariedade humana. De posse dessa arma infalível, podem compartilhar o exercício de poder contra a morte. O suicídio é, sem dúvida, uma resposta à falta de diálogo e a doação é sinônimo de amor ao próximo.
*Médico, doutor em Nefrologia, ex-reitor da UFMA, membro da ANM, da AML, da AMM, Sobrames e do IHGMA