A ansiedade é um dos grandes problemas do século XXI, afligindo 7.3% dos indivíduos no mundo, e aumentando ano a ano. Assim, é muito bom que pesquisadores se dediquem à procurar novas maneiras de combater a doença, inclusive através de novos medicamentos. Felizmente, é isso que um grupo brasileiro está fazendo, e seu trabalho foi publicado recentemente na revista Pharmacology Biochemistry and Behavior.
A droga em questão foi uma conhecida como FGIN-1-27. Ela chamou a atenção do grupo devido à sua capacidade de ativar uma proteína conhecida como TSPO, que se localiza na mitocôndria, uma estrutura dentro das células responsável pela produção de energia. A TSPO também é um alvo dos benzodiazepínicos, que são fármacos comumente utilizados contra a ansiedade.
Assim, considerando essa função em comum, o grupo do Pará, encabeçado pelo professor Dr. Caio Maximino, em colaboração com pesquisadores da Universidad Veracruzana, do México, se perguntou se a FGIN-1-27 também poderia ajudar a combater a ansiedade.
Para testar esse efeito, os pesquisadores utilizaram dois modelos. O primeiro foi uma espécie conhecida como zebrafish, muito utilizada em estudos comportamentais ou neurológicos por possuírem um sistema nervoso muito similar ao nosso. O segundo foi com calangos. Eles separaram esses animais em grupos, que recebiam ou não a droga bem como – em alguns dos experimentos – grupos que receberam benzodiazepínicos comumente utilizados.
Eles então foram submetidos à testes de medo e ansiedade bastante utilizados no estudo comportamental.
Os pesquisadores observaram então que a FGIN-1-27 foi capaz de reduzir comportamentos associados com a ansiedade nos animais. Em ambas as espécies, a FGIN-1-27 conseguiu efeitos similares ou superiores ao dos benzodiazepínicos (que não funcionou nos calangos), mas com menos efeitos colaterais sedativos que esses fármacos costumam provocar.
E o funcionamento da nova molécula não foi a única descoberta interessante do estudo. “Nossos achados em modelos animais alternativos mostram que drogas que agem nesse receptor mitocondrial (O TSPO) têm efeitos conservados em diferentes espécies”, conta o Dr. Maximino. Ou seja, o estudo também tem uma importância para o estudo da evolução desses espécies, demonstrando que o mesmo mecanismo funciona em dois animais distintos.
Naturalmente, ainda vai levar muito tempo para o FGIN-1-27 chegar ao mercado; este estudo é o primeiro passo de uma longa jornada de desenvolvimento. Mas é um primeiro passo importante, e totalmente brasileiro! Torçamos para que, no futuro, esta pesquisa renda bons frutos e tenhamos mais uma opção para combater os níveis crescentes de ansiedade na nossa sociedade.