Uma grande explosão em Beirute, capital do Líbano, nessa terça-feira (4), deixou ao menos 135 mortos e milhares de feridos, segundo autoridades locais e a Cruz Vermelha.
O acontecimento vem sendo relacionado a uma grande quantidade de material explosivo confiscado e potencialmente inseguro, armazenado em um depósito no porto da cidade, próximo a áreas populosas.
Enquanto líderes mundiais e organizações internacionais se unem para oferecer ajuda, autoridades locais deram início a uma investigação sobre o caso. Na manhã desta quarta-feira (5), equipes focaram em tratar os feridos, buscar sobreviventes e mensurar a extensão dos danos.
O que aconteceu?
A explosão foi registrada às 18h07 (12h07 em Brasília) perto do porto de Beirute e do centro da cidade, próximo a muitas áreas populosas e turísticas. Alguns pontos da região que atraem visitantes são a histórica Praça dos Mártires, a mesquita Mohammad Al-Amin, o Grand Serail (sede do governo libanês) e o Palácio Baabda (residência oficial do presidente).
A força da explosão causou estragos em toda a cidade, virando carros, quebrando vidros e destruindo casas. Entre os prédios danificados estão a sede do ex-primeiro-ministro Saad Hariri e o escritório da CNN no centro da capital libanesa.
Os danos chegaram a até 10 km do epicentro, segundo testemunhas. A explosão foi sentida até no Chipre, país localizado a 240 km de Beirute, e registrada como um terremoto de 3,3 graus de magnitude.
Quantas pessoas morreram?
Ao menos 135 pessoas morreram e mais de 5 mil ficaram feridas, segundo autoridades do país e a estatal Agência de Notícias Nacional (NNA, em inglês), citando a Cruz Vermelha. Contudo, o número de vítimas deve aumentar ao longo do dia, disse o ministro da Saúde do Líbano, Hamad Hassan, nesta manhã, em uma entrevista a uma emissora local.
“Há muitos desaparecidos. As pessoas estão perguntando no departamento de emergências sobre seus parentes, e é difícil realizar as buscas durante a noite porque não há eletricidade. Estamos enfrentando uma catástrofe real e precisamos de tempo para calcular a extensão dos danos”, afirmou Hassan.
Entre os mortos estão o secretário-geral do partido político Kataeb, Nazar Najarian, segundo a NNA. Ele estava em seu gabinete quando a explosão aconteceu e morreu em razão da gravidade dos ferimentos.
Equipes de resgate buscam sobreviventes em meio a escombros de casas e prédios destruídos em Beirute
Ao menos dez bombeiros que atuavam em Beirute estão desaparecidos, informou o governador Marwan Abboud.
Além disso, ao menos um australiano morreu e o prédio da Embaixada da Austrália foi “seriamente comprometido”, afirmou o premiê do país, Scott Morrison.
Dois cidadãos filipinos também morreram e outros oito ficaram feridos, de acordo com um comunicado da Embaixada filipina em Beirute. Outros 11 marinheiros filipinos estão desaparecidos.
O que causou a explosão?
Logo após a tragédia, surgiram informações conflitantes. Primeiro, a causa foi atribuída a um grande incêndio em um depósito de fogos de artifício localizado perto do porto.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aumentou ainda mais as dúvidas quando se referiu ao incidente como um “ataque”, apesar de funcionários do Departamento de Defesa norte-americano dizerem que não havia indícios que apontassem para isso.
Nas primeiras horas desta quarta em Beirute, o primeiro-ministro do país, Hassan Diab, disse que cerca de 2.750 toneladas de nitrato de amônio, um material altamente explosivo, vinha sendo armazenado em um depósito perto do porto há seis anos, “sem medidas preventivas”.
O chefe de segurança do Líbano afirmou que um “material altamente explosivo” foi confiscado anos antes e armazenado no depósito em questão, localizado a poucos minutos do centro de Beirute.
Até o momento, as autoridades não confirmaram oficialmente o que pode ter desencadeado a explosão.
“Não vou descansar até encontrarmos os responsáveis pelo que aconteceu e impor punição máxima”, disse o premiê em um comunicado, mencionando ser “inaceitável” que tamanha quantidade de nitrato de amônio tenha sido armazenado “enquanto ameaçava a segurança dos cidadãos”.
Área do porto de Beirute completamente destruída um dia após a explosão
Ainda assim, alguns especialistas apontam que a explosão pode ter sido causada por mais do que apenas nitrato de amônio. Anthony May, um investigador aposentado da Agência de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos dos EUA (ATF, em inglês), disse que a cor da nuvem de fumaça sugere que havia outros componentes envolvidos.
Para Robert Baer, ex-membro da Agência Central de Inteligência dos EUA (CIA) e com extensa experiência em Oriente Médio, afirmou que “aquela bola laranja [de fogo]” indica possibilidade de explosivos de nível militar.
O que é nitrato de amônio?
O nitrato de amônio, um composto de amônia e nitrogênio, é um material altamente volátil utilizado em fertilizantes agrícolas e bombas.
Acidentes envolvendo a substância são raros, considerando que os EUA usam milhões de toneladas do material anualmente em fertilizantes, segundo a Agência de Proteção ao Meio Ambiente (EPA, em inglês).
Em sua forma sólida e “pura”, o nitrato de amônio é estável, mas se misturado com outros contaminantes, mesmo em pequenas quantidades, a composição se torna muito mais propensa à detonação. Por isso normalmente há orientações rigorosas por parte dos governos sobre como lidar com ele e armazená-lo adequadamente.
“Em geral, as condições de armazenamento do nitrato de amônio são cruciais para a segurança e a estabilidade dele. Materiais alocados ou armazenados junto podem afetar a sua sensibilidade de explodir”, explicou a EPA em um guia publicado em 2019.
Por exemplo, o nitrato de amônio não deve ser armazenado com combustíveis, materiais orgânicos, cloretos ou metais – todos contaminantes em potencial –, segundo o guia. Para os locais de armazenamento, a EPA também recomenda paredes resistentes a chamas, piso não inflamável e temperaturas controladas.
Porto de Beirute ficou destruído após explosão
O nitrato de amônio não queima, se exposto ao calor, mas pode derreter, lançando gases tóxicos que podem causar uma explosão. Ele é ainda mais perigoso se houver uma grande quantidade armazenada, porque quando uma pequena porção da substância começa a derreter e explodir, o calor resultante afeta todo o resto.
Um dos piores acidentes na história dos EUA envolvendo um tipo de amônia aconteceu em abril de 1947, quando uma embarcação que transportava nitrato de amônio pegou fogo no momento em que estava ancorado na cidade do Texas.
As chamas causaram uma explosão e incêndios adicionais que danificaram mais de mil prédios e mataram cerca de 400 pessoas, de acordo com o site da Associação Histórica do Texas. O fogo foi desencadeado por 2.087 toneladas de nitrato de amônio. Em 1995, um atentado na cidade de Oklahoma que matou 169 pessoas e feriu 467, usou apenas 1,8 tonelada do produto.