Poucos homens conseguem transitar entre tantos mundos com intimidade e leveza como meu amigo e confrade Sálvio Dino, que descansou no último domingo de uma longa jornada de combate e resistência.
Sálvio, além de intelectual apegado às Letras, membro que era de diversas academias literárias, também exerceu muitos mandatos políticos, experiência que lhe rendeu habilidade de acordos e composições de diversos matizes.
Perdi mais que um confrade: um amigo, que não era apenas meu. Salvio cultivou uma longa amizade com meu pai e com este travava boas conversas e opiniões abalizadas. Herdei essa amizade e dela cuidei com esmero, assim como todo o patrimônio imaterial que meu saudoso pai me legou.
Tive a honra de prefaciar a obra de Sálvio Dino, intitulada A faculdade de Direito no Maranhão e, àquela ocasião, comentei com o autor que este havia desenvolvido um trabalho para que nunca nos esquecêssemos de que nenhuma vitória é singular: toda ela é fruto de um esforço coletivo, nascido em meio a sonho, vontade e determinação. Ao trazer a lume os feitos de Domingos Perdigão, Fran Paxeco, Henrique Couto, Mata Roma, Sarney Costa, Antenor Bogéa, Ruben Almeida e tantos outros nomes que dedicaram suas vidas à formação, consolidação e expansão do ensino jurídico no Maranhão, o livro de Sálvio alerta para a constante vigilância de uma sociedade mais justa, mais igualitária e mais democrática.
Exímio contador de histórias, artífice de memórias: Salvio Dino deixou muitos outros escritos, crônicas, discursos e artigos. Viveu com afeição e devoção pelo que cria e valorizava. A pena calou, mas o que está registrado o tempo não vai apagar. Por isso Fernando Pessoa atesta: o valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.
A exemplo do apóstolo São Paulo, meu amigo combateu o bom combate e caminhou a carreira. Mas a fé está guardada e há de acompanhá-la em boa morada.
Natalino Salgado Filho