Em um feito inédito, na solenidade que terminou no final da manhã desta quarta-feira(16), na sede da Ordem dos Advogados, seccional do Maranhão, prestou compromisso Anacleto Pereira Corrêa Lima, nono membro de uma mesma família, de origem negra, em pleno exercício e com tradição na advocacia maranhense.
Ele é filho da jornalista e advogada Itamargarethe Corrêa Lima e neto do advogado militante – com mais de meio século de atuação profissional – Itamar Corrêa Lima.
“Somos o interruptor da Democracia no País. É a advocacia que tem à missão de barrar os excessos e arbítrios dos agentes públicos, independente da esfera de poder. Aos 85 anos, presenciar mais um neto abraçando com amor a carreira jurídica, além de gratidão, tenho orgulho e a certeza que o caminho escolhido foi à opção mais acertada na minha vida”, disse emocionado Dr. Itamar.
ORIGEM FAMILIAR
Abandonado pela mãe aos seis meses de idade, o filho de Severo Corrêa Lima, motorista do Palácio dos Leões no governo de Sebastião Archer, foi criado por 13 madrastas. A infância e adolescência conturbadas foram à combustão propulsora para alimentar a vontade de vencer que, somada a determinação de garantir aos descendentes um futuro diferente, fez com que o aluno do Liceu Maranhense tivesse a certeza que somente através da educação conquistaria um lugar de destaque em uma sociedade imperialista e escravocrata.
O resultado não poderia ser diferente. Em 1964, Itamar Corrêa Lima foi aprovado para o curso de Direito. O ex- presidente do Centro Acadêmico da antiga Faculdade de Direito, na Rua do Sol – é citado como exemplo pelos grandes profissionais que desbravaram e lutaram para fortalecer a profissão no Estado.
Ao ladrilhar um caminho sólido na carreira, antes de abraçar e fazer da OAB sua segunda família, o patriarca exerceu os cargos de escrivão da Polícia Federal e delegado da Polícia Civil. Já na condição de advogado foi aprovado nos concursos de auditor do Ministério do Trabalho e Juiz estadual, mas problemas familiares o levaram abrir mão de ambas as nomeações.
LEMBRANÇAS DA DITADURA
Dono de um legado moral robusto, na trajetória pessoal, uma passagem em especial enche de orgulho filhos e netos. “O saber jurídico, a coragem e determinação são atributos inconfundíveis. Acompanhei a narrativa de muitos e muitos fatos, porém o que mais chamou minha atenção tem haver com a Ditadura Militar, período difícil na história do Brasil. Em 1968, como presidente do Centro Acadêmico, ele foi preso e retirado da sala de aula, apontado pela polícia repressora como líder dos movimentos que eclodiram em todo o País, inclusive na capital maranhense, para protestar o assassinato do estudante secundarista Edson Luís de Lima Souto, ocorrida dentro do restaurante Calabouço, no Rio de Janeiro”, contou o mais novo advogado.
Exercendo a advocacia apenas – na condição de consultor jurídico da prole – além de Itamargarethe e Anacleto, também são inscritos na seccional maranhense os filhos Itamary, Itamauro e Itamarcia e, ainda, os netos Italanna, Paulo Filho e Raissa, sem contar com outros três – sendo dois filhos e um neto – bacharéis e que já já deverão seguir os mesmos passos da família.