Afirmação é de um infectologista e pesquisador da UFMA; segundo ele, essa reaceleração no número de casos na capital maranhense se deve à flexibilização das atividades econômicas
São Luís – Uma pesquisa sobre o número de casos da Covid-19 em capitais que fizeram o processo de reabertura gradual, divulgada pelo Estadão, no domingo, mostrou São Luís entre as capitais com declínio de casos. O infectologista e professor Antônio Augusto de Moura da Silva, do Departamento de Saúde Pública da UFMA, no entanto, aponta uma reaceleração no número de casos nos últimos dias.
O jornal utilizou os dados da plataforma colaborativa Brasil.io, que reúne diariamente os números disponibilizados pelas secretarias estaduais de saúde de cada estado. De acordo com o estudo, pelo menos 12 capitais – de 18 utilizadas na pesquisa – apresentaram aceleração no número de casos confirmados. São Luís foi uma das cidades nordestinas que tiveram um efeito contrário, levando em consideração os números do final de junho com o mesmo momento, só que em maio – quando o Maranhão atingiu o pico da doença – a quantidade de novos casos de Covid-19 em São Luís, reduziu em até 50%. O professor Antônio Augusto de Moura da Silva, do Departamento de Saúde Pública da UFMA, em entrevista a O Estado, ressaltou uma reaceleração no número de casos nos últimos dias, como consequência da reabertura precoce de bares e restaurantes.
Segundo o pesquisador, essa redução de 80% no número de casos em relação ao pico, realmente foi observada em São Luís. “De um total de 2 mil casos semanais, o número de casos na ilha chegou a cair para 300, mas agora subiu de novo para 750 casos semanais. Assim, a segunda onda de casos na capital provavelmente já começou”, explicou Antônio Augusto de Moura. Outro ponto que precisa ser evidenciado é o número reprodutivo efetivo – esse número indica para quantas pessoas, em média, um infectado transmite a doença – na Ilha (São Luís, São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa). “O número, que chegou a cair para 0,60 por volta do dia 20 de junho, voltou a subir para 0,88, se aproximando novamente de 1. Como os casos já voltaram a subir, tudo indica que a taxa de transmissão tenha se reacelerado na ilha”, completou o professor.
No período em que houve redução de casos, Antônio Augusto de Moura frisou que se deveu às várias medidas de distanciamento social tomadas no fim de março (fechamento de escolas e do comércio, proibição de eventos) e ao lockdown. “Em parte, também o uso de máscaras e outras medidas de proteção individual [distanciamento físico de pelo menos 1,5 metro entre as pessoas e higiene das mãos], devem ter tido uma participação nessa queda”, pontuou.
Testagem
Uma hipótese que é levantada a partir do estudo realizado pelo Estadão, é que o número de casos subnotificados no estado ainda seja muito grande. O pesquisador Antônio Augusto também explicou a O Estado, que a subnotificação de casos no Brasil foi estimada em 86%. “Não parece ter havido mudança na subnotificação ao longo do tempo que possa explicar mudança de tendência na Covid-19”, disse. Outra ressalva precisa ser feita, o número de testagens feitas em comparação ao número de habitantes no Maranhão ainda é muito pequeno, ou seja, sem testes, sem novos casos confirmados.
Muitos pesquisadores defendem a testagem em massa da população, já que muitas pessoas são assintomáticas, e essa seria uma explicação para o número pequeno de novos pacientes de Covid-19 no estado, uma vez que o comércio foi reaberto e posteriormente as academias, bares e restaurantes. Nesses locais é possível flagrar os mais variados tipos de desrespeito às normas sanitárias recomendadas pelo governo, desde ao uso de máscaras de proteção, até ao distanciamento social de 1,5 metro entre as pessoas.
Muitos pontos de testagens para Covid-19 em São Luís estão mais vazios, como a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Bacanga. O Estado visitou o local e constatou um pequeno número de pessoas se dirigindo para a tenda de testagem. Na última live de atualizações sobre a pandemia no estado, realizada na sexta-feira, 3, o governador Flávio Dino, anunciou um reforço nas testagens nas próximas semanas.
Leitos
Um número que segue decrescente é a taxa de ocupação de leitos de UTI e de leitos clínicos na região metropolitana de São Luís. A partir do boletim da Secretaria de Estado da Saúde (SES), do dia 1° de julho até o boletim do dia 5, o número de leitos ocupados mostrou queda diária. Uma diminuição de 82, 92% (146 ocupados e 30 livres) de lotação de leitos de UTI, no dia 1° a 77,84% (137 ocupados e 39 livres) de taxa de ocupação.
O Estado entrou em contato com o governo para questionar sobre uma possível segunda onda de casos da Covid-19 no estado, e também, para saber se o Maranhão está preparado para retornar com os leitos que começaram a ser desocupados com a redução da taxa de ocupação, porém, até o fechamento desta edição, nenhuma resposta foi obtida.
Por Kethlen Mata, de O Estado