Sentimentos dúbios. Assim podemos definir como os representantes do segmento cultural receberam o anúncio feito pelo governador Carlos Brandão(PSB) da construção de um boiódromo no Aterro do Bacanga. O fato veio a público no domingo(16), no discurso de abertura da tradicional festa da Juçara, no Maracanã.
LADO POSITIVO
De um lado a informação foi comemorada, pois evidencia que Brandão tem a intenção de começar o governo focado em entregar um significativo equipamento estruturante à principal manifestação da cultura popular do Maranhão. “A informação reconforta a comunidade boieira que perdeu na gestão passada seu maior símbolo, quando viu o Parque Folclórico da Vila Palmeira ser transformado em Praça da Família sem que nenhum fazedor de cultura fosse sequer ouvido”, disse Itamilson Lima, carnavalesco, produtor cultural há exatos 30 anos e presidente da Escola de Samba Turma da Mangueira.
PATRIMÔNIO CULTURAL DA HUMANIDADE
Já por outro lado, no tocante a Parintins, à declaração de Brandão foi incomoda e indigesta. Segundo os líderes culturais, nem a cidade amazonense muito menos qualquer outro lugar no mundo pode servir como referência para construção de uma arena de apresentação do Bumba meu boi no Maranhão.
De Norte a Sul do Brasil, as manifestações protagonizadas pelo Boi são pujantes, há exemplo do Boi Bumbá encontrado no Amazonas e na Bahia. No Rio de Janeiro – o Boi Pintadinho, enquanto que em Florianópolis é o Boi Mamão. Entretanto, a única reconhecida como Patrimônio Cultural da Humanidade é o Complexo do Bumba Meu Boi do Maranhão.
“Com todo respeito e alegria pelo anúncio, é fundamental que as tratativas sejam feitas sem a arrogância e a insensibilidade muito comum nos dirigentes públicos, que, na grande maioria das vezes, não conhecem de verdade a realidade da cultura popular, nem tampouco o fundamento de sua morfologia, por isso reduzem as brincadeiras a instrumentos de composições da grade de apresentações de eventos que parecem ter o único objetivo de aglomerar pessoas”, justificou.
ORIGEM DO BOI BUMBÁ
O presidente da escola Turma de Mangueira trouxe à baila uma importante informação, digo, que o Boi Bumbá de Parintins tem sua origem repousando exatamente no bumba boi maranhense, que narra o desejo de Catirina, esposa de Pai Francisco, resguardada as devidas transformações e variações a partir da influência de elementos nativos da Amazônia e outras manifestações nacionais, como as escolas de samba do sul e sudeste do país.
“Não quero acreditar que iremos abrir mão da originalidade do Bumba Boi para copiar uma disputa bicolor que nada acrescenta no formato democrático e peculiar de fazer o São João. Somos indubitavelmente detentores da maior manifestação popular de brincadeiras do Brasil, não sei se por estarmos geograficamente na faixa de transição entre o Norte e o Nordeste ou se pela salada étnica. Só sei que precisamos parar com esse complexo de vira-latas que enxerga sempre o outro como melhor e vai aos poucos desconfigurando nossa identidade quando abrem mão da salvaguarda das preciosidades criadas pelo nosso povo, simplesmente porque brotam de homens e mulheres simples”, finalizou.